Aprenda com pessoas e organizações bem-sucedidas a superar desejos incontroláveis e maus hábitos para ir ainda mais longe
Mais Forte, Mais Rápido e Com Mais Excelência
Tudo na vida é uma questão de hábito.
Jornalista do The New York Times e ganhador do Prêmio Pulitzer, Charles Duhigg descreve em seu primeiro livro, O Poder do Hábito, como as rotinas são formadas e modificadas. Para ele, um hábito é uma atividade que uma pessoa decide deliberadamente realizar uma vez e depois a faz de forma contínua – normalmente com frequência – sem a necessidade de concentração. Ele oferece o exemplo dos procedimentos complicados pelos quais você passa automaticamente para dirigir o seu carro. Os hábitos se desenvolvem porque o cérebro humano busca naturalmente formas de economizar energia.
Os pacientes que perdem a memória devido a uma doença ou lesão ainda mantêm a capacidade de seguir os seus hábitos. Duhigg cita um paciente chamado Eugene que sofreu uma encefalite viral. Ele não conseguia mais desenhar a planta da sua casa, mas era capaz de encontrar a cozinha quando queria um lanche. Eugene demonstrou que “alguém que não consegue se lembrar da sua idade ou quase qualquer outra coisa pode desenvolver hábitos que pareçam incompreensivelmente complexos – até você perceber que todo mundo depende de processos neurológicos semelhantes todos os dias”.
Toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não é nada mais além de uma massa de hábitos.William James, psicólogo americano
Estes “comportamentos automáticos” residem nos gânglios basais do cérebro profundo, que traduzem feitos em ações habituais, por meio de um processo denominado de “chunking”, ou agrupamento de unidades cognitivas. Por exemplo, pegar as chaves do carro é uma unidade cognitiva relativa ao comportamento que aciona imediatamente outras unidades cognitivas envolvidas no ato de dirigir.
Duhigg descreve o “loop do hábito” como três estágios que se desenvolvem nos gânglios basais. No primeiro estágio, o cérebro busca uma “deixa” que lhe permita operar no piloto automático e indicar o que o corpo deve fazer. O segundo estágio é a “rotina” ou o hábito que se segue. Depois, vem a “recompensa”, que ensina ao cérebro se vale a pena lembrar o ciclo em questão no futuro.
Quando a sugestão e a recompensa se conectam, o cérebro desenvolve um forte sentimento de expectativa, levando ao desejo e ao nascimento de um hábito. Infelizmente, relata Duhigg, o cérebro não julga se o novo hábito é benéfico ou prejudicial, o que favorece a consolidação de maus hábitos difíceis de serem quebrados. Você pode mudar hábitos destrutivos e adotar novos positivos, entendendo e gerindo o ciclo de deixa-rotina-recompensa. Duhigg aconselha as pessoas a se concentrarem nas sugestões e recompensas e a alterarem sua rotina para impedir desejos incontroláveis e maus.
Os hábitos podem mudar outros hábitos.
Quando Paul O’Neill se tornou CEO da Alcoa Company of America (Alcoa), ele surpreendeu os funcionários se concentrando na segurança do local de trabalho. A sua motivação, esclarece Duhigg, é o fato de que os hábitos organizacionais têm o poder de promover mudanças. Ele se concentrou em um “hábito fundamental” – aquele que, caso alterado, multiplica-se por toda uma empresa e força outras mudanças em áreas aparentemente não relacionadas. Além disso, ele cria uma sinergia de grupo, que facilita a mudança. O’Neill sabia que os hábitos que mais importam são os que desalojam e refazem padrões negativos.
O foco de O’Neill na segurança do trabalhador forçou a Alcoa a reestruturar a sua forma de trabalhar, o que a tornou não apenas mais segura, mas também mais enxuta e acertiva. As suas mudanças nos procedimentos de segurança afetaram todos os setores da empresa. Os hábitos fundamentais também podem ter esse impacto na vida das pessoas. Por exemplo, quem se exercita mais tende a fumar menos, beber menos, a comer mais alimentos saudáveis e a se tornar mais produtivo. Os hábitos fundamentais resultam em “pequenas vitórias”: realizações transitórias que ajudam as pessoas a perceber que os grandes sucessos são possíveis.
Transformar um hábito não é necessariamente fácil nem rápido. Nem sempre é simples. Mas é possível. E agora entendemos como.Charles Duhigg
A força de vontade tem a mesma eficácia em tratar um hábito como em aprender a tocar um instrumento musical ou falar uma língua estrangeira. Por exemplo, as regras da Starbucks para os funcionários, relata Duhigg, promovem o conceito de força de vontade, que as pesquisas identificam como o hábito determinante para o sucesso pessoal. Os funcionários da Starbucks avançam nas suas vidas e carreiras ao controlar a força de vontade para serem alegres, independentemente do que surja durante o expediente. Os colaboradores aprendem a se concentrar nos “pontos de inflexão” – situações de crise que normalmente enfraqueceriam a autodisciplina e as habilidades de “autorregulação”, como o estresse de lidar com clientes insatisfeitos.
Os “hábitos sociais” motivam as pessoas a se envolverem em grandes causas.
O boicote aos ônibus da década de 1950 em Montgomery, no Alabama, surgiu em parte devido a hábitos sociais, que, segundo Duhigg, “podem mudar o mundo”, já que estimulam as pessoas a se envolverem de verdade. Quando a costureira Rosa Parks foi presa por se recusar a oferecer o seu assento no ônibus para uma pessoa branca, a comunidade negra se rebelou. O reverendo Martin Luther King Jr. e outros líderes criaram “um sentimento de propriedade” da sua causa para mobilizar moradores negros a boicotarem e se juntarem a outras lutas pelos direitos civis.
Da mesma forma, um jovem pastor chamado Rick Warren construiu a sua megaigreja Saddleback na Califórnia, em parte com base nos hábitos sociais. Duhigg relata que ele queria tornar a igreja mais social e menos trabalhosa, ensinando às pessoas “hábitos de fé”. Ele criou pequenos grupos autônomos que se encontravam fora dos cultos de domingo. Os membros liam e estudavam a Bíblia, mas também eram altamente sociais. Eles discutiam os problemas que enfrentavam diariamente e apoiavam uns aos outros. Os laços fracos da congregação principal se ramificaram a minigrupos com laços fortes que construíram “líderes autodirecionados”, um fenômeno dos hábitos sociais.
As pessoas são responsáveis pelos seus atos falhos, ou será que os seus hábitos são os verdadeiros culpados?
A sociedade se debate com a noção dos hábitos. Duhigg entende que a questão é quanta responsabilidade as pessoas devem assumir por suas ações habituais. Será que um viciado em jogos que se sente insatisfeito em casa e que depois joga fora o seu dinheiro (sua rotina) é culpado se colocar o desejo de aliviar o estresse (sua recompensa) à frente da estabilidade da sua família? Para alguns pesquisadores, se o cérebro não tiver a chance de interceder deliberadamente, a resposta é não; ele não é responsável. Ainda assim, a sociedade assume que as pessoas têm alguma responsabilidade pessoal por hábitos como o jogo.
A questão é que os comportamentos habituais dos indivíduos são complexos e vêm em muitas formas diferentes. Espremê-los em uma estrutura como a proposta por Duhigg perde algumas das nuances de como mudar o comportamento de forma eficaz. Nos últimos anos, os psicólogos sociais desenvolveram muitas intervenções eficazes para ajudar as pessoas a melhorar as suas vidas, apenas algumas das quais envolvem a quebra de maus hábitos da maneira descrita pelo autor. No entanto, O Poder do Hábito é um livro agradável, e os leitores encontrarão conselhos úteis sobre como mudar pelo menos alguns dos seus maus hábitos com alguma determinação – mesmo que queiram manter algumas características pessoais que os tornam únicos.